Exploração sustentáveldo Aquífero Guarani na indústria sucroalcooleira

Utilização sustentável da água, um desafio para todos os setores e atividades econômicas.

Tanto nas cidades (abastecimento público, industrial e/ou lazer) quanto no campo (em processos de irrigação ou geração de energia, entre outros), a utilização adequada, a preservação e a proteção dos recursos hídricos é de responsabilidade coletiva: desde as autoridades competentes, por meio de implementação de políticas públicas, até o consumidor doméstico.

Quase 70% do volume total de água doce se encontra na forma de geleiras polares, sendo assim inviável para uso. Do restante de água disponível é de se destacar a grande disponibilidade de água subterrânea (29,9%) que equivale a 30 vezes o volume de água doce somada dos rios e lagos (0,3%).

A indústria sucroalcooleira

O aumento da preocupação com a preservação dos recursos naturais e com a disponibilidade dos combustíveis fósseis têm tornado o etanol uma alternativa renovável de combustível para o mundo todo.

O Brasil é, atualmente, um dos maiores produtores e exportadores de açúcar e de biocombustíveis e o desenvolvimento acentuado deste setor tem ocorrido nas regiões do Sudeste, parte do Centro-Oeste, Sul e parte da costa do Nordeste, o que permite produção de açúcar e etanol praticamente durante todo o ano.

A área de cultivo situada no setor centro-sul abrange os estados do Paraná, São Paulo, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul; e sob essa área, em
específico, está situada a bacia sedimentar do Paraná, onde se encontra um dos maiores reservatórios de águas subterrâneas do mundo, o Aquífero Guarani.

Considerando que uma usina produtora de 500.000 litros etanol/dia tem uma demanda média de 500 m3/hora de água, o manejo adequado da cultura canavieira para promover o uso sustentável da água subterrânea, bem
como do uso de tecnologias que objetivem a preservação deste recurso é essencial.

Para isto, a construção de poços tubulares profundos deve ser precedida de estudos detalhados que considerem todo o processo, tanto para a exploração daquele volume de água, quanto do ponto de vista ambiental.

Formas de captação de água subterrânea e suas vantagens

As principais formas de coletar adequadamente águas naturais são por meio de rios e represas (águas superficiais) ou ou por meio de poços tubulares profundos (água subterrânea).

A ausência de estudos criteriosos para identificar a fonte de captação de água que melhor atenda a unidade industrial pode impactar no custo de
operação por tonelada de cana processada ou até mesmo na capacidade produção que por ser reduzida.

A escolha entre uma e outra fonte de captação – ou ainda a combinação das duas, varia conforme as condições hidrológicas e hidrogeológicas regionais, bem como topográficas em que se situa cada unidade.

A captação é a primeira unidade de um sistema de abastecimento de água. Todas as unidades subsequentes dependem do seu constante e bom funcionamento. Desta forma, a unidade de captação deve ser planejada de maneira a considerar que não são admissíveis interrupções em seu funcionamento.

A captação de água por meio de poços tubulares profundos pode ser uma alternativa a captação de água superficial.

Entre suas vantagens, estão:

  • Otimização de investimentos para instalação;
  • Área de instalação reduzida;
  • Possibilidade de instalação próximo ao local de consumo;
  • Menos vulnerável a influências climáticas;
  • Qualidade da água apropriada para uso industrial;
  • Dependendo da qualidade exigida, o tratamento pode ser
    simplificado;
  • Menor risco e probabilidade de sofrer os efeitos de
    contaminação.

O Aquífero Guarani

O Aquífero Guarani é o maior manancial de água doce subterrânea transfronteiriço do mundo.

Está localizado na região centro-leste da América do Sul e ocupa uma área de 1,2 milhões de km2, estendendo-se pelo Brasil (840.000 km2),
Paraguai (58.500 km2), Uruguai (58.500 km2) e Argentina (255.000 km2).

O Aquífero está localizado em uma reserva estratégica de água para indústrias, agricultura e abastecimento público, abrangendo os estados de Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

Na região centro-sul do país, tem papel fundamental no setor sucroalcooleiro
para o beneficiamento desta matéria-prima.

Sua recarga natural anual é de 160 km3/ano, sendo que destes, 40 km3/ano constitui o potencial explorável sem riscos para o sistema aquífero. A água contida, em geral, é de boa qualidade para o abastecimento público e
outros usos.

Em sua porção confinada, os poços têm cerca de 800 a 1.300 m de profundidade e, quando bem construídos, podem produzir vazões superiores
a 300 m3/h.

A disponibilidade hídrica deste manancial é excepcional quando comparado com aquelas provenientes de águas superficiais. O volume sustentável total de água disponível pelo Aquífero Guarani é superior ao que se poderia obter
de todos os rios do mundo somados.

Devido sua extensão e o fato de não ser uniforme, são várias as alternativas de projetos que podem ser aplicadas na implantação de poços tubulares.

Esta situação implica na necessidade de profissionais tecnicamente qualificados para se elaborar o projeto e as especificações para construção dos poços, uma vez que se trata de uma condição que depende do perfil litológico da região da qual se quer extrair água, das condições de pressão a que o aquífero está submetido e da espessura das rochas na região.

A combinação da qualidade de água, boa proteção contra os agentes de poluição que afetam rapidamente as águas dos rios e outros mananciais de superfície, aliada a possibilidade de captação de água nas proximidades dos
locais de maior demanda, faz com que o Aquífero Guarani seja uma fonte viável de captação de água.

Esta situação deve refletir na análise de viabilidade técnico-econômica elaborada para definição do tipo de manancial que deverá ser explorado para o uso da indústria.

O consumo de água no setor

A água é parte essencial na cadeia produtiva da indústria sucroalcooleira que está em constante busca por alternativas e tecnologias para reduzir o consumo de recursos hídricos em seu processo.

Um exemplo de redução do consumo de água pode ser percebido no processamento da cana de açúcar. Em 1997 no Brasil, eram necessários
5.000 litros de água para processar 1 tonelada de cana. Em 2004 esse volume já havia caído para 1.800 litros. Atualmente, as Unidades projetadas
e construídas têm como uma de suas principais metas a utilização do menor consumo de água, necessitando em média de um volume de 1.000
litros de água /tonelada processada.

Os avanços tecnológicos permitiram às Usinas reutilizar a água contida na própria cana de açúcar (80% do seu peso) em seus processos industriais, reduzindo os volumes de água necessária para o processamento, captações
e também descartes finais.

Ainda assim, a água captada por meio de poços ou captação superficial é utilizada na demanda industrial, sendo de extrema importância um manejo adequado da cultura canavieira para promover o uso sustentável da água
subterrânea, bem como evitar a infiltração de contaminantes no manancial.

A vinhaça, resultado da produção de etanol é considerada uma fonte de nutrientes para a cultura da cana-de-açúcar, mas quando aplicada em grandes quantidades, pode levar à alteração da qualidade das águas subterrâneas e, inclusive, à contaminação quando as concentrações das
substâncias deslocadas forem elevadas.

A produção de 1 litro de álcool gera, em média, 12 litros de vinhaça. Uma usina de porte médio, com capacidade de processamento de 2.500.000 ton/safra (ano) e produção aproximada de 500.000 litros de Etanol/dia, gera cerca de 6.000.000 litros de vinhaça/dia.

É economicamente viável, simples e legal a exploração do Aquífero Guarani para abastecimento do setor sucroalcooleiro, desde que o processo seja realizado por profissionais
e empresas habilitados, que forneçam as licenças específicas e empreguem processos e metodologias adequadas, fundamentados no princípio da sustentabilidade do manancial.

Levando em consideração que a CETESB autoriza distribuir até 180m3 de vinhaça por hec/ano, é preciso observar com atenção a forma de
exploração, utilização e proteção dos recursos hídricos em qualquer projeto de produção de álcool e açúcar.

Os projetos e as tecnologias de aproveitamento (captação, construção, adução etc.) precisam ser implementados obedecendo rigorosamente
todas as especificações técnicas descritas nas normas brasileiras e principalmente atendendo a todos os aspectos efetivos da sustentabilidade
do sistema.

Desde a fase do licenciamento ambiental, as obras implantadas deverão ser realizadas por empresas que ofereçam condições de suporte técnico e com tecnologias apropriadas para a finalidade do empreendimento, para que o
processo selecionado não provoque resultados econômicos e ambientais aquém dos desejáveis e possíveis.

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